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15/01/2011

Nostalgia: "tenha com moderação"


Por que será que, por mais que a gente tente, muitas vezes é incapaz de abandonar determinadas memórias afetivas: imagens que construímos de nós mesmos, velhos amores, antigos padrões de comportamento? E parece que não adianta mesmo fugir - tais memórias são nossa bagagem, estarão sempre a nos acompanhar. Claro que tudo isso depende do uso que fazemos do nosso passado. Pois uma coisa é ter o tempo pretérito como referência a fim de não perpetuar erros anteriores para um presente melhor. Outra coisa bem diferente (e daninha) é a fixação no passado, quando remoemos aquilo que já está longe no tempo e no espaço, ou idealizamos (alguém, uma situação, até um estilo de vida) a ponto de não mais conseguirmos olhar para frente e aproveitarmos o presente na sua totalidade. É aí que entra a danada da nostalgia...

Nostalgia vem do grego e quer dizer "saudade de um lugar que não mais existe ou nunca existiu", dado suficiente para compreendermos que pode então ser um grande obstáculo para nosso crescimento. Repare como num momento ou outro a gente pensa num tempo bom que não volta nunca mais... o tal "ah, antigamente"...

Você certamente conhece a figura: aquele eterno insatisfeito, o tipo de pessoa de quem mais se ouve que antigamente... - ah! antigamente, como as mulheres eram mais bonitas (a beleza natural), as ruas mais limpas e o ar mais puro. É bem possível mesmo que a vida fosse mais amena. Tudo bem. O custo de vida mais baixo e o trânsito, muito menos estressante. Faz sentido. E é lógico que havia menos gente no mundo. É verdade. Acontece que esse "antigamente" idealizado nunca mais voltará. O fato é que fabricamos muito das nossas memórias e não temos mais certeza do passado, por isso mesmo é que o tempo pretérito nos parece ter cores tão mais definidas, um cenário impecável.

A nostalgia não é um estado psicológico exclusivo de determinados casos: na verdade, a maioria das pessoas a vive sem sequer se dar conta dela, mesmo que seja de uma vida que não é a sua (olha só até onde pode chegar a loucura de cada um de nós!). Criação e memória, eis os pilares da nostalgia... partindo do pressuposto que são atributos normais de qualquer pessoa, é preciso termos cuidado com as ditas fantasias. Elas podem literalmente nos prender a uma realidade inexistente e impedir um desenvolvimento no presente, além de uma possibilidade de vislumbrar o futuro. Uma saudade dos velhos tempos ou uma fantasia sobre certo fato do qual você adoraria ter participado podem alimentá-lo, mas, quando essas sensações se tornam obsessivas, é melhor ficar atento: finque o pé no presente e bola pra frente!


Foto Google
Fonte: Vida Simples, Abril Editora, Janeiro, 2010