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01/08/2010

Houve um Tempo de Gentileza



Houve um tempo em que as pessoas tinham mais calma, mais respeito e mais consideração. Houve um tempo em que as pessoas eram de fato, pessoas. Hoje, zelar por seus próprios princípios e valores pessoais, tornou-se virtude, ao invés de dever comum. A justificativa em geral, norteia a escassez de tempo, isso é sabido. Mas esses dias, ouvi de uma pessoa o seguinte: "...e tem aquele povo que vive me cumprimentando, mas finjo que não ouvi, porque não conheço né...vai saber..." 

Pergunto-me de quem foi a idéia de difundir essa 'regra' social em que se ignora alguém que não se conhece, a ponto de não ser 'adequado' sequer responder a um 'bom dia'? Parei para pensar sobre o assunto e lembrei de diversas vezes que ficava com meus 'bom dias' ou 'olás'ao vento, porque simplesmente os havia direcionado a pessoas 'estranhas'. Aos interessados, é fácil reconhecer esses 'estranhos' na rua - geralmente possuem atitude introspectiva padrão, retraídos em linguagem verbal e não verbal, blindados a qualquer tipo de contato vindos 'do desconhecido'. Seu habitat, via de regra, localiza-se nos grandes centros urbanos. Para se viver em harmonia entre eles, é fundamental seguir um único mandamento de convívio que rege o seguinte: "prometo-não-notar-que-você-existe-se-me-prometer-fazer-o-mesmo".

Passei o final de semana no interior de São Paulo, cidade de Porangaba, distante cerca de uma hora e meia da capital. É incrível a aproximidade de todos da cidade. Durante a viagem, falava com meu marido sobre esse assunto e chegando a cidade, pedi a ele que, como teste, buzinasse aos pedestres cumprimentando com um breve asceno. Simplesmente 100% das manifestações foram correspondidas, inclusive algumas, acompanhadas de um largo sorriso. Ninguém ligava se conhecia ou não. Só se importavam em ter a consideração de corresponder ao gesto. Provavelmente, o índice de escolaridade da maioria na cidade não deve passar sequer do primeiro grau completo. Isso prova que exercer a cidadania, está exclusivamente ligado a formação do caráter de cada um.

Vivemos cada vez menos em comunidade. Criamos laços frágeis com as pessoas. É preciso voltar a nos atentar as pequenas gentilezas e compreender que esse é o primeiro passo para a reabilitação da sociedade indiferente em que vivemos.

4 comentários:

  1. Amei! Sabe o que acho, a nossa sociedade está cada vez mais individualista, as pessoas querem apenas saber de seus objetivos e interesses. Hoje, quando estamos no elevador raras são as vezes em que as pessoas comentam sobre o tempo ou dizem até logo, muito menos tenha bom dia. É mais fácil entrar no elevador e ficar olhando o Iphone, blackberry ou telemídia do que notar a pessoa ao seu lado. Respeito está em deuso, quem dirá a solidariedade!

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  2. A coisa mais curiosa e engraçada disso tudo, é que ao mesmo tempo que a sociedade se afasta do material e presencial, sendo cada dia mais frios uns com os outros na vida real, abre-se a vida inteira em comunidades de relacionamento virtual para qualquer estranho, para pessoas que não se conhece...

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  3. Amada...
    ate eu tive vontade de acenar e sorrir.

    Saudades (das grandes,...)

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